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Terça-feira,19 de outubro de 1999


Ionaldo Cavalcanti busca a calmaria

O artista plástico expõe 18 óleos sobre tela, a partir de hoje, no Club Athletico Paulistano

DÉBORA GUTERMAN

Especial para o Estado

Os 50 anos de carreira de Ionaldo Andrade Cavalcanti serão comemorados em grande estilo, mas numa cerimônia para poucos. O Club Athletico Paulistano (Rua Honduras, 1.400, tel. 280-8633) abre hoje, às 18h30, para sócios e convidados, a exposição de 18 telas a óleo do artista plástico que cada vez mais reafirma a sobriedade da arte.

O pernambucano, que chegou a São Paulo em 1958, parece ter abandonado parte do legado nordestino, presente nas primeiras telas, para fazer uma análise introspectiva de sua criação. Mas talvez um resquício de sua origem possa ainda ser encontrado nas figuras femininas, reconhece ele.

O resultado é um traço simplista, mas nem por isso pobre ou impreciso. Busca, antes de tudo, um momento de equilíbrio, de calmaria. Tanto para o artista quanto para o espectador. "O meu trabalho pretende transmitir uma sensação tranqüilizadora", comenta Cavalcanti. "Ao ver alguma de minhas telas, quero que a pessoa se aquiete, descanse, saia do clima de agitação da cidade", conclui.

O artista, autodidata, é também autor da primeira enciclopédia de HQ lançada no Brasil, em 1977, O Mundo dos Quadrinhos (Símbolo). Longe desse mundo, hoje ele se dedica quase exclusivamente a suas telas. Um trabalho que ele identifica com a arte moderna, uma vez que ela teve como base a simplificação, explica. "Tanto é verdade que o modernismo se confundia com o primitivismo, com a arte da Idade da Pedra Lascada." Daí conclui-se que sua censura estética ao uso de cores e a estilização coordenada das formas geométricas são mais do que propositais. Pessoais.


Simplismo - Uma interpretação apressada poderia acusar na obra de Cavalcanti o emprego de formas esquemáticas. Mas o artista recusa essa conotação. Se renuncia ao excesso de cor e luz, é sinal de que mantém a fidelidade à sua acepção de um mundo simplório. E seus traços, que às vezes ousam parecer infantis, devem, antes, ser interpretados como identidade, autenticidade e, mais, beleza pura, ingênua. Porque é justamente o que Cavalcanti almeja: a harmonia. Mas dá liberdade a outras interpretações - e não poderia ser diferente: a arte nunca pode deixar de ser uma obra aberta.

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Link Original: http://www2.estado.estadao.com.br/edicao/pano/99/10/18/ca2946.html

 

 

 

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